TORNEIRAS ABERTAS
Por Paulo Silvano em 26/07/2014
A decisão do banco central nesta semana em injetar R$ 45 bilhões na
economia provenientes do depósito compulsório dos bancos, como estímulo de
crédito soa um pouco desproporcional em relação a decisão deste mesmo órgão em
manter a taxa de juros “Selic” em 11 por cento. E o acordo de Basiléia 2 e 3
como fica? Espeta por um lado, assopra por outro. O clima de incertezas que
paira sobre a economia é gritante, a indústria não está produzindo por diversos
fatores, alguns deles: o cambio com dólar baixo estimulando as importações em
detrimento das exportações, a alta carga
tributária, ineficiência ou mão de obra desqualificada e salários com reajustes
acima da inflação em um ambiente de baixa produtividade e desestímulo
empresarial.
Diante deste cenário interno desfavorável, com crescimento
do PIB sendo revisado para menos de 1%, em uma perspectiva mais otimista, temos
ainda o ano eleitoral em que as políticas de estímulo ou incentivo ao
crescimento apresentam mais do mesmo, pois nenhum candidato (governo ou
oposição) vai querer correr o risco de piorar as coisas, principalmente com
medidas impopulares ( ajuste fiscal, reforma política, manutenção do tripé
econômico, aumento de tarifas, etc) medidas estas que deverão ser levadas a
efeito em 2015, com governo ou oposição no comando.
O que deixou o mercado econômico um pouco confuso, foi a
contrariedade do governo em anunciar uma medida de manutenção da taxa de juros
e depois abrir as torneiras de liquidez para estimulo de crédito. É sabido que
a população, denominada como mercado de consumo está bastante endividada em
relação a aquisição dos chamados bens posicionais(linha branca, veículos,
móveis, vestuário, construção...)e também há uma saturação deste modelo
econômico. A sociedade em geral está exigindo novas demandas, como saúde,
educação, transporte e mobilidade urbana, respostas rápidas e eficiência no
setor público. Enfim, uma redução do tamanho do estado, evitando que se torne
um leviatã, mencionado no livro de Thomas Hobes.
É certo que não podemos voltar ao estado de natureza, desinstituir(não
existe esta palavra em nosso dicionário, penso eu) ou desconstituir as
Instituições como querem alguns niilistas pregando o caos. A ascensão de 35 a
40 milhões de pessoas à classe C, potenciais consumidores, disputadas a ferro e
fogo pelo mercado nacional e internacional criou um novo fator social, uma
demanda nova ainda imperceptível à classe política na disputa pelo voto. Este
fato ainda subjacente será a panaceia para o partido que tiver a sensibilidade
de descobrir uma adequada abordagem. Basta lembrar as manifestações ocorridas em junho de 2013
ainda sendo decodificada pelos partidos políticos, antropólogos e imprensa.
Por fim, insta ressaltar que o Brasil terá que realizar as
reformas necessárias, cortando gastos públicos, aumentando tarifas, fazendo a
gestão do mercado sem ingerência no setor produtivo, coisas que a UE teve que
fazer passando por um período longo de impopularidade, recessão, crescimento
baixo, contudo, começa a mostrar resultados em países como Portugal, Italia,
embora com taxas de desemprego ainda um pouco elevadas, cerca de 10 a 12%. A
continuar como está a taxa de juros por aqui, 11%, a classe empresária continua
relutante entre aplicar na produção ou comprar títulos do tesouro. O setor de
serviços não vai sustentar as bases por muito tempo.
Espero que o próximo governo, atual ou oposição, recoloque o
país novamente no caminho do progresso, com instituições sólidas, pleno
funcionamento do mercado, respeito ao estado de direito, tudo isto está
funcionando e resistindo aos embates. Estamos nos destacando como país
democrático, porém, é imperativo buscar ser competitivo dentro da cadeia produtiva global, atuando
como protagonista, principalmente agora que temos avançado no bloco dos BRICS e
boas perspectiva de acordo entre Mercosul e UE.
Lembrando que; “Nem só de pão, vive o homem”
Dados do autor:
Paulo S.Silvano
Oliveira
Advogado
Extensão em Direito
marítimo
Áreas de atuação,
navegação (cabotagem, offshore e longo-curso)
“Expertise” em
portos – tendo atuado por 10 anos em portos da VALE.
Atuado como
empresário em reparações navais.
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