quinta-feira, 2 de março de 2017

SOBRE A VIOLÊNCIA E MODERNIDADE






SOBRE A VIOLÊNCIA E MODERNIDADE

Em uma leitura aos recentes artigos escritos por reconhecidos articulistas em vários periódicos sobre a violência, gostaria de acrescentar algumas informações que considero ser importante no sentido de entender a violência como um fenômeno emergente na era moderna.


Nas sociedades ocidentais, a democracia nos dias de hoje está enfrentando dificuldades para superar problemas que eram subjacentes ao homem comum, em que a única tarefa e anseio era trabalhar, produzir riqueza, criar e proteger a família, todas outras vontades e pretensões giravam em torno destes eixos, como conjuntos de acessórios.


Vivendo em um mundo de extrema competição para adquirir coisas e valores, a maioria dos indivíduos acabam ficando para trás, enquanto outros ainda prosseguem em busca do objetivo, existem também aqueles que já alcançaram e estão desfrutando dos bens adquiridos. Este é o mundo do utilitarismo de “Benjamin Bentham”. A maximização racional das satisfações e desejos.


No entanto, seria pura ingenuidade pensar que essa massa de pessoas descontentes e não incluídas, que não conseguem e não podem desfrutar dos prazeres da riqueza e alcançar o sonho prometido pelas classes dominantes, estariam acomodadas e aguardando sua vez de ser os próximos vencedores de uma maneira estoica, de modo nenhum.


Os tempos mudam rapidamente e com o advento tecnológico das redes sociais e aplicativos, é fácil mobilizar as pessoas a nível mundial, incutir ideias e congrega-las em uma forma de espectro que atua sobre as emoções subjacentes gerando uma sucessão de eventos, como uma onda.


A esses eventos, nos chamam a atenção para o livro de George Sorel: Réflexions sur la violence [Refleções sobre a violência] em um de seus trechos sobre a violência ea turbulência disse:

"A greve geral do sindicalista, a revolução catastrófica do marxista, a igreja militante do cristão, as lendas da Revolução Francesa, E a lembrança dos Dias de Junho são todos mitos que movem os homens, independentemente da sua realidade histórica. Como um dos discípulos de Sorel (Benito Mussolini) disse, os homens não movem montanhas, só é necessário Criar a ilusão de que as montanhas se movem. Os mitos sociais, diz Sorel, não são descrições de coisas, mas "expressões de uma determinação para agir".


De fato, a violência na sociedade moderna está intimamente associada a desigualdades sociais: frustração, desapontamento político que se fundiram com desemprego, guerras, imigrações, perseguições políticas e religiosas, desprezo aos apelos de minorias étnicas, etc. Estes grupos acabam por se tornar incapazes de adotar as regras padrões de comportamento ditado pela sociedade.


Este pote de abominações, quando cheio, inevitavelmente acaba derramando sobre as pessoas, criando um catalisador para o surto de violência. O objetivo principal de tal comportamento perturbador é mudar o status quo, criando a oportunidade para serem ouvidos, mesmo que seja necessário estabelecer o caos para compensar as dificuldades. Embora, seja esta, uma lógica incorreta.


Sorel, via a violência como algo épico, a única coisa capaz de mudar o estereótipo enraizado nas elites em que o convencional era a perpetuação do poder. Tal violência, também pode ser descrita como, Areté, uma palavra grega que significa uma qualidade de virtude que só os nobres e príncipes detinham como dádiva, concedida por deuses.


Platão e Aristóteles concebiam a ideia que o ser humano deve estar em busca desta virtude e, uma vez alcançada, deve ser aplicado em benefício total da "POLIS". Na medida em que, uma vez alcançada, a geração de cidadãos virtuosos seria capaz de desempenhar com ética, qualquer tarefa em benefício da sociedade.


Por outro lado, a barbárie e violência praticada, por determinados grupos, é tida como uma vingança, uma apropriação dessa virtude (areté) para ser usada contra a “Polis”, a violência praticada contra cidadãos, sociedades, governo, mídia, meio ambiente, etc, engendrada por movimentos difusos.


Esta diversidade de classes reivindicando seus direitos, resulta na criação de um mito, algo que as impelem a seguir em frente, independentemente de ser verdadeiro ou falso, certo ou errado, o mais importante é exercer o domínio das massas, movendo-as e exortando sempre à ação. Assim, surge o pano de fundo para criação de tumulto e violência.


Em resumo, as democracias são a espinha dorsal de todo os governos nos países ocidentais. Embora não seja completamente perfeita, ela é ainda, o mais adequado regime para a humanidade, no entanto, precisa ser aprimorado, no sentido de propiciar melhor acesso à justiça e propugnar pela redução das desigualdades entre os povos.


Esta tarefa não é fácil, no evangelho de João, Jesus Cristo já havia notado essas falhas sociais, como podemos ver em João 12: 8
João 12: 8 " Porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes."
Fonte: https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/12


Este não é um julgamento, mas uma assertiva, um conselho para a humanidade, porque Ele sabia de antemão que os projetos do homem para construção de uma sociedade justa e igualitária são imperfeitos e certamente se desgastariam ao longo dos anos.



Sobre o autor:

Paulo S.Silvano Oliveira
lawyer - Consultant
Extension in maritime law (shipping, oil & gas, loss and averages, etc.)
"Expertise" in ports - having worked for 10 years in VALE ports.
Maritime repairs and Agency.
email: paulosilvano.juridico@gmail.com
Linkedin: BR.linkedin.com/in/paulosilvano
http://paulosilvano.blogspot.com.br


Notas: fontes,
5)     http://www.iep.utm.edu/bentham/