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A DOENÇA DO MUNDO E A NORMALIZAÇÃO DO COLAPSO
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A Doença do Mundo e a Normalização do Colapso
Uma leitura escatológica a partir de Thomas Mann
Há períodos na história em que a humanidade adoece sem perceber. A enfermidade não se limita ao corpo ou à economia; ela atinge o espírito, a linguagem, os valores e as instituições. Quando isso acontece, o colapso deixa de causar espanto e passa a ser tratado como parte natural da vida. A Bíblia descreve esse estado com precisão inquietante: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal”.
Thomas Mann, em A Montanha Mágica, captou esse fenômeno com rara profundidade. Embora o romance se passe em um sanatório nos Alpes suíços, o próprio autor deixa claro que a doença ali presente não se restringia aos pacientes. O sanatório funcionava como um microcosmo da sociedade europeia do início do século XX — uma civilização refinada, culta e, ao mesmo tempo, profundamente enferma.
Não estavam doentes apenas os corpos; estavam doentes o tempo, o pensamento e a percepção da realidade. No alto da montanha, o tempo se dilata, as urgências desaparecem e a enfermidade deixa de ser algo a ser combatido para se tornar um estado permanente. Os pacientes aprendem a viver com a doença, adaptam-se a ela e, aos poucos, deixam de desejar a cura.
A Montanha Mágica como espelho do mundo atual
Essa imagem literária é perturbadoramente atual. O mundo contemporâneo se assemelha a esse sanatório elevado: um espaço onde crises sucessivas já não causam choque, onde colapsos institucionais são tratados como administráveis, onde o extraordinário se torna rotina. Vive-se em estado permanente de emergência — e, paradoxalmente, de anestesia coletiva.
Do ponto de vista bíblico, esse estado pode ser descrito como um entorpecimento espiritual. O coração se adapta ao desequilíbrio. A consciência se ajusta ao erro. A sociedade passa a medir sua sanidade por relatórios, índices e narrativas oficiais, mesmo quando os sinais de decadência são evidentes. Assim como na Montanha Mágica, o termômetro substitui o discernimento.
Mann sugere que a verdadeira doença não era a tuberculose, mas a mentalidade que romantizava a enfermidade, transformando-a em identidade. O mesmo ocorre hoje. A crise deixa de ser um problema a ser superado e passa a ser incorporada como modo de vida. Fala-se em “nova normalidade”, como se o desvio pudesse ser institucionalizado sem consequências morais ou espirituais.
Esse ponto é crucial para uma leitura escatológica do nosso tempo. As Escrituras alertam que, nos períodos finais, muitos dirão “paz e segurança” exatamente quando a ruína já estiver em curso. A doença mais perigosa não é o caos visível, mas a capacidade de conviver com ele sem um senso crítico, sem arrependimento e sem desejo de restauração.
A verdadeira doença: quando a crise vira identidade
Na Montanha Mágica, ocorre uma inversão moral: a vida fora do sanatório passa a parecer vulgar, superficial e apressada; a doença, por sua vez, ganha um falso ar de profundidade e elevação. Algo semelhante acontece hoje. A estabilidade, a ordem e a verdade passam a ser vistas com desconfiança, enquanto o colapso é romantizado como sinal de consciência, progresso ou maturidade histórica.
Essa inversão prepara o terreno para um fenômeno ainda mais grave. Quando uma sociedade aceita sua própria enfermidade como inevitável, ela deixa de buscar a cura e passa a desejar apenas alguém que administre a doença. Não mais um restaurador, mas um gestor. Não mais um Pastor, mas um técnico. Não alguém que confronte o erro, mas alguém que torne o erro funcional.
É aqui que o quadro se conecta ao debate escatológico e geopolítico. Um mundo doente, cansado e espiritualmente anestesiado torna-se terreno fértil para aceitar qualquer liderança que prometa estabilidade — mesmo que essa estabilidade seja construída sobre fundamentos frágeis ou falsos. A promessa de ordem passa a valer mais do que a verdade.
A Bíblia adverte que muitos preferirão mestres que digam o que desejam ouvir. O líder que emerge nesse ambiente não confronta a doença; ele a normaliza. Não chama ao arrependimento; chama à adaptação. Não oferece cura; oferece anestesia.
O cansaço coletivo como sinal dos tempos
Em A Montanha Mágica, o isolamento termina sob a sombra da guerra, sugerindo que a doença não poderia permanecer confinada indefinidamente. Da mesma forma, a enfermidade espiritual do mundo atual não permanecerá sem consequências históricas. Aquilo que é tolerado no plano moral acaba, inevitavelmente, manifestando-se no plano político e social.
O mundo de hoje se comporta como um paciente antigo: cansado de tratamentos longos, descrente de curas definitivas e disposto a aceitar qualquer solução rápida que alivie a dor. Esse cansaço coletivo talvez seja um dos sinais mais claros do nosso tempo.
A pergunta que permanece não é se essa condição terá um desfecho, mas qual será o preço da falsa estabilidade que muitos estão dispostos a aceitar. Da mesma forma, a doença espiritual do mundo atual não ficará sem consequências históricas. Contudo, o vazio da alma pode ser preenchido a partir de uma perspectiva espiritual que transcenda as coisas materiais desta terra.
Continua no proximo capitulo.
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By: Zadock Zenas (Kernel text)
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