AINDA RESTA A
ESPERANÇA
Observando
pela janela a rua e seus transeuntes, notei um fato que imaginei ter sido
superado na vida brasileira cotidiana e que agora retorna a cena atual, a saber: pessoas
revirando e examinando lixos domésticos depositados em sacolas plásticas à busca
de objetos ou comida.
Fiquei
observando uma criança que aparentava ter apenas uns oito a dez anos
verificando as sacolas plásticas e notei uma certa destreza por parte desta
criança em examinar as sacolas, mesmo antes de abri-las para ver se havia algo
aproveitável, útil para ela. Não se mostrava envergonhada, apenas determinada a
conseguir alguma coisa que para ela significava alguma serventia e valor.
Imaginei que
em situações normais, em ambientes desenvolvidos e com melhores níveis de igualdes
sociais, esta criança poderia estar brincando com seus pares ou mesmo
estudando, uma vez que este fato aconteceu por volta das sete horas da noite.
Faltando aproximadamente uns 40 minutos para que os garis e o carro coletador
da prefeitura, passasse recolhendo as sacolas plásticas de lixo.
Infere-se que
esta criança sabia o horário de recolhimento e que antes deste horário, as
pessoas costumam depositar mais sacolas de lixo para serem coletadas, evitando
assim que os animais domésticos como cães e gatos rasguem as sacolas. O que
tende a demonstrar o agravamento da crise e seus efeitos nefastos.
A preocupação
persiste em saber que estes acontecimentos vêm se repetindo, aumentando o
número de pessoas vasculhando lixos e pedindo ajuda de casa em casa. Para
surpresa de alguns, não se trata apenas de pessoas drogadas ou com problemas
psicológicos, mas normais, que são vítimas de infortúnios e desventuras desta
vida, cuja capacidade de resiliência, vem diminuindo em relação a intensidade
da desdita.
A crise atinge
a todos os brasileiros, mas, é impiedosa com os mais carentes e pobres, pois as
oportunidades e perspectivas tornam-se cada vez mais distantes à estas pessoas,
e não oferece uma alternativa às dificuldades enfrentadas, ceifando a dignidade
e impondo-lhes assim uma forte opressão
e ignomínia.
O Brasil vive
momentos difíceis e insólito, com repetitivas crises, o que acaba agravando
ainda mais a situação das pessoas vulneráveis, de baixa ou nenhuma renda. A
informação para estas pessoas chega por apenas um canal, quando chega, é
apresentada de maneira tendenciosa.
Isto posto,
impede a formação de um pensamento crítico em relação a tomada de decisão pelo
ouvinte ou destinatário da notícia. Pois não tem como confrontar com outras
fontes ou canal, reduzindo assim a capacidade de raciocínio e escolha. Trata-se
de um livre arbítrio não volitivo, mas coercitivo.
Por outro
lado, a imensa crise que se apresenta, com corrupção jorrando pra todo lado, em
que o cenário atual é a possível cassação da chapa Dilma-Temer. Neste caso, há
um movimento contrário ao acima exposto. Pois há excesso ou exagero de notícias,
impedindo também que o leitor ou destinatário destas notícias, consiga formar
uma convicção mais próxima da realidade dos fatos.
E nas palavras
de Aristóteles, em seu livro Ética a Nicômaco, o autor escreve que
"o excesso e a falta destroem a excelência". Portanto, a virtude
reside no meio termo, na capacidade das pessoas enquanto sociedade, estarem
buscando informações de uma maneira mais analítica, examinando várias fontes,
excluindo aqueles argumentos fáceis, sugestivos e sedutores, mas que não são
verdadeiros e induzem ao erro.
Não podemos
conceber a ideia de uma sociedade que dependa do Judiciário para impedir
que este ou aquele político que está sendo investigado ou processado, venha a
concorrer a eleição. Isto o Judiciário pode e está fazendo de forma
correta. Contudo cabe a nós como sociedade organizada, a tomada de decisão em
rejeitar tais políticos e jamais, votar nestes candidatos.
Este é um ato
de vontade, de escolha e tem que partir de cada um de nós a medida que buscamos e analisamos informações recebidas dos candidatos, seu caráter e forma de agir. Se não, estaremos agindo como o personagem da excelente música da banda Pink Floyd, em canção escrita magistralmente por Waters e Gilmour chamada "Mother"(mother do you think they´ll drop the bomb).
Definindo o critério de escolhas, somente assim,
estaremos na iminência de alterar o quadro descrito nos primeiros parágrafos.
Com efeito, enxergaríamos uma criança brincando nos bancos de praça ou
estudando com seus colegas. Para reforçar esta possibilidade, chamo a atenção
dos leitores a uma imagem veiculada na mídia recentemente.
A reportagem
mostrava a foto de uma criança (menina) que vendo sua casa sendo invadida pelas
águas, vítima de uma enxurrada que atingiu o bairro carente e de periferia onde
mora, foi aconselhada pela avó a pegar o que puder e fugirem da casa.
Ao que de
imediato, a criança agarrou sua mochila, subiu em uma canoa improvisada e
deixou sua casa em busca de abrigo. Ao chegar ao local seguro e encontrar sua
avó, ela ainda estava agarrada a mochila, quando abriram para verificar os
pertences, notaram que havia somente livros. Ela não tinha somente uma
esperança de vida e salvação, mas uma ardente expectativa de futuro.
Ao término
deste artigo, chega a informação que a chapa Dilma-Temer, não foi caçada pelo
TSE. Se não houve justiça, ao menos por enquanto, sobejou o bom senso dos
ministros em preservar as instituições e a democracia. Afinal de contas não se pode
trocar de presidente a todo momento, como trocamos de celular.
Nos resta a esperança.
Dados
sobre o autor:
Paulo S.Silvano
Oliveira
Advogado /
Consultor
Extensão em
Direito marítimo (transporte marítimo, oil & gás, avarias, etc)
“Expertise”
em portos – tendo atuado por 10 anos em portos da VALE.
Empresas de
reparos navais e Agencias marítimas.
Linkedin: BR.linkedin.com/in/paulosilvano
www.abreujuris.com
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