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O TARIFAÇO E O DESEJO DOS OLHOS
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A Nova Guerra Fria Comercial: EUA x China e a Luta Pelo Século XXI
Nas últimas décadas, o mundo assistiu à ascensão da China como potência econômica e à tentativa dos Estados Unidos de preservar sua hegemonia global. A guerra comercial iniciada de forma explícita durante o governo Trump, com o aumento generalizado de tarifas contra produtos chineses — e a resposta imediata de Pequim — revelou mais do que um embate econômico: tratava-se da cristalização de uma disputa estratégica pela liderança global no século XXI.
O Tarifaço de Trump: O Início da Nova Etapa
Quando Donald Trump anunciou o aumento de tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em produtos chineses, seu objetivo declarado era reduzir o déficit comercial americano e proteger a indústria nacional. No entanto, o pano de fundo ia muito além: tratava-se de conter o avanço chinês em setores estratégicos, como tecnologia, inteligência artificial e telecomunicações — áreas nas quais o plano "Made in China 2025" deixava claro o desejo de liderança global.
A China, por sua vez, respondeu com a mesma moeda, aumentando tarifas sobre produtos agrícolas e industriais dos EUA. A escolha dos alvos não foi aleatória: ao mirar o cinturão agrícola americano, onde Trump tinha forte apoio político, Pequim mostrava domínio estratégico e disposição para o jogo duro.
Hegemonia em Disputa
Os Estados Unidos emergiram das duas grandes guerras do século XX como potência hegemônica, moldando a ordem internacional liberal baseada em comércio livre, alianças ocidentais e instituições multilaterais. Essa ordem garantiu ao país não apenas prosperidade, mas a difusão do chamado “american way of life”, símbolo do sucesso capitalista e do ideal de liberdade.
Porém, o crescimento meteórico da China colocou esse modelo sob tensão. Desde as reformas de Deng Xiaoping, o país abraçou elementos do capitalismo sem abrir mão do controle político centralizado. Criou-se, assim, um sistema híbrido: economia de mercado com planejamento estatal e forte vigilância social. O resultado? Centenas de milhões de pessoas saíram da pobreza, e o país tornou-se a segunda maior economia do mundo em menos de 30 anos.
Esse crescimento criou uma nova classe média chinesa, acostumada a níveis de conforto e consumo impensáveis no passado. O Partido Comunista Chinês sabe que não pode recuar: qualquer retrocesso econômico pode significar agitação social em uma sociedade com mais de 1,4 bilhão de habitantes. Manter o "status quo" de crescimento e estabilidade tornou-se questão de sobrevivência para o regime.
créditos de imagem: imagem gerada por IA
Dois Modelos, Um Objetivo
Apesar das diferenças gritantes entre democracia liberal e autoritarismo estatal, EUA e China compartilham um objetivo comum: dar as cartas no jogo global. Cada país persegue sua liderança de forma distinta:
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EUA: reforçando alianças estratégicas, buscando reindustrializar o país (com políticas de reshoring), mantendo controle sobre cadeias críticas de suprimentos e impondo sanções ou restrições a empresas chinesas como Huawei e TikTok.
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China: expandindo sua influência pelo mundo por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota, investindo em infraestrutura em países em desenvolvimento, garantindo acesso a recursos naturais estratégicos e buscando autossuficiência tecnológica.
Ambos têm lideranças fortes e nacionalistas. Trump, mesmo fora da presidência (por ora), pavimentou um caminho que Biden em grande parte manteve. Xi Jinping, por sua vez, consolidou poder como nenhum outro líder chinês desde Mao.
E o Resto do Mundo?
Para os demais países, a disputa representa um desafio constante. De um lado, há o mercado consumidor americano e a proteção de propriedade intelectual. Do outro, o dinamismo chinês e suas oportunidades de financiamento e investimento. Muitos governos se veem forçados a “escolher um lado” em questões-chave, como 5G, semicondutores, inteligência artificial e segurança nacional.
A Lógica do Desejo e a Pressão das Multidões
Num plano mais profundo, filosófico e antropológico, pode-se dizer que o verdadeiro motor da tensão entre essas potências está menos nas ideologias políticas e mais nas aspirações materiais de seus povos. A democracia americana e o comunismo chinês, apesar de suas diferenças estruturais, governam sob a mesma pressão essencial: atender ao desejo crescente de bem-estar e prosperidade.
Ambos os modelos políticos dependem da entrega constante de crescimento, consumo e conforto. Quando essa promessa é frustrada — seja por crises, recessões, desemprego ou inflação — a legitimidade dos governantes começa a ruir.
O filósofo francês Gilles Lipovetsky observou que vivemos numa era marcada pelo "imperativo do bem-estar", onde o desejo de consumir tornou-se uma norma social, quase uma obrigação. Nesse contexto, governos não apenas administram o Estado, mas devem alimentar continuamente essa máquina de desejos, que nunca se satisfaz por completo.
Já o antropólogo René Girard, ao explorar o conceito de "desejo mimético", nos ajuda a compreender por que povos tão diferentes convergem nos mesmos anseios materiais: eles desejam o que o outro possui ou aparenta possuir. A prosperidade americana é espelho e estímulo para a ambição chinesa — e vice-versa. Esse desejo recíproco e competitivo é o que torna o embate inevitável.
Conclusão: A Guerra Silenciosa que Molda o Futuro
O que começou como uma disputa tarifária evoluiu para um embate multifacetado: econômico, tecnológico, diplomático e, potencialmente, militar. O mundo não assiste a uma Guerra Fria como no século XX, mas sim a uma Nova Guerra Fria — comercial, estratégica e com consequências imprevisíveis.
A grande pergunta que permanece é: quem moldará as regras do século XXI? A resposta pode não estar apenas em Washington ou Pequim, mas nos corredores discretos de acordos comerciais, inovações tecnológicas, desejos sociais e expectativas econômicas.
No fim das contas, talvez o grande campo de batalha não seja nem o comércio, nem a tecnologia, mas sim o coração humano — insaciável, desejante, e eternamente inquieto.
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By, Paulo Silvano (kernel text)
Advogado, pós graduado em Direito Previdenciário, extensão em Direito Marítimo e Portuário
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