quarta-feira, 30 de março de 2016

SOCIEDADES UTÓPICAS

SOCIEDADES UTÓPICAS




Em meio as manifestações sociais acontecidas nos meses de março e abril deste ano, a conceituada revista Britânica ” the Economist” noticiava que os Brasileiros saiam às ruas para protestar contra o governo e manifestar indignação pelo atual estagio de corrupção no país, comendo pipocas, tomando cerveja e com crianças vestindo trajes de super-heróis. Para eles, uma espécie de manifestação surreal no hemisfério sul.

A Europa, velho continente, tem larga experiência em evolução de sociedades. Estas transformações se deram de forma bastante gravosa, passando por guerras, revoluções, pestes, perseguição, tortura, extremismos religiosos, diversas formas de violência até chegar a um pacto social ou contrato social, como propugnava Rousseau.

Os países, ou sociedades europeias, sabem que a evolução ou mutação de classes, geralmente ocorrem de forma disruptiva, precedendo sempre a violência de grupos radicais prontos a acederem o estopim do caos para engendrar uma mudança. Percebe-se hoje, os esforços de governos europeus, principalmente na zona do euro, em manter as conquistas ou acordos firmados, de forma a consolidar uma União Europeia forte, livres de qualquer convulsão social que lembre o passado; no que estão certos.

Mas..voltemos a nossa sociedade e suas diferentes características na construção de  um novo mundo. Vejam que a atenção da revista não se voltou aos cartazes e as reivindicações das mais diversas, tais como: volta do governo militar, impeachment, fora políticos, etc. O que chamou a atenção da revista foi a forma como estas reivindicações estão sendo externadas, dentro de uma visão empiricista da realidade social europeia.

Todavia, isto não é absoluto, Uma breve retrospectiva ao século XVIII, podemos constatar algumas peculiaridades na construção de uma sociedade idealizada por Saint-Simon[i] Para este filosofo Frances, “a modificação das relações sociais e as estruturas políticas da França, de um sistema arcaico feudal para uma sociedade industrial, se dariam de forma pacífica, apesar da existência de um risco de explosão violenta por parte da aristocracia que possuía o poder de mando. Este, poderia seria mitigado pela  natureza da ação industrial que é diferente da ação guerreira da aristocracia.[ii]

Àquela época, de forte presença do estado e crescente expansão colonialista, era costume dos filósofos e pensadores  construir um ideal hipotético de sociedade perfeita, uma alternativa ao modelo estabelecido, sopesando o sofrimento de um povo em busca de liberdade e justiça social.

Imaginava-se uma sociedade em que a propriedade privada não fosse o eixo de vontade do ser humano. A diminuição da jornada de trabalho e a criação de centros culturais, esportes e lazer para a comunidade na busca de um equilíbrio natural.



 Mais tarde, rompe-se este pensamento, pela filosofia positivista de Comte( Auguste Comte – filosofo Frances, discípulo de Sain-Simon) Segundo a qual a observação subordina a imaginação, e os fenômenos sociais devem ser observados e estudados para busca de respostas.

Hoje, o mundo globalizado, as redes sociais e a comunicação virtual, trouxe uma nova realidade à nossa sociedade contemporânea, aprimorando suas demandas. Em resumo, as principais queixas desta sociedade, gira em torno do excessivo poder do estado, um leviatã (monstro), sempre ávido para gastar, mas, demasiadamente lento a retribuir, uma classe política totalmente desvinculada dos ideais sociais, além da corrupção.

Estes, os políticos sim, constroem sociedades idílicas para seus pares e compatriotas navegando sempre no mar dos povos, segundo eles, enfrentando monstros vorazes, tal qual a lenda de beowulf(herói mitológico escandinavo). Por sua vez, a sociedade, embora elegendo esta classe política, não se sente representada por ela e nem acreditam em seus discursos. Eis ai criado um hiato de poder.


Não há dúvida que avançamos na redução da desigualdade social. Contudo, este avanço se deu de forma desordenada. Cerca de 30 milhões de pessoas foram alçadas a condição social mais benéfica, passando a somar com a classe média em sentido consumeirista. Entretanto, resultou numa compressão social, pois não houve melhora da classe B (média), gerando uma mistura de demandas difusas que até hoje os partidos e o governo não conseguem entender.

Se não entendem a mensagem, há um ruído, se este ruído não é percebido ou decifrado, não há resposta satisfatória ou condizente aos anseios populares. Desta forma, estamos em um deserto girando ao redor de um monte, sem perspectiva de saída.

Concebeu-se uma ideia, a de reduzir as desigualdades sociais, mas não desenvolveram um projeto de longo prazo, sustentável, que pudesse conduzir esta massa de pessoas, chamadas cidadãos e não simplesmente consumidores, a construir uma sociedade avançada, com plenos conhecimentos tecnológicos, culturais, ambientais, etc, fomentando novos valores.

Em momentos de crise é preciso convergir em um  ideal que nos une, na concepção de pensamentos novos e instituições em sintonia com a demanda social. Como diz o filosofo e escritor Pondé[iii] , está faltando debates acadêmicos nas universidades, escolas, associações de classe e formadores de opiniões em conjunto com a sociedade para propor soluções. Sonhar é preciso, projetar o futuro na busca de novas concepções e fatos novos. (grifo meu).







Dados sobre o autor:

Paulo S.Silvano Oliveira
Advogado
Extensão em Direito marítimo (transporte marítimo, oil & gás, avarias, etc)
“Expertise” em portos – tendo atuado por 10 anos em portos da VALE.
Linkedin: BR.linkedin.com/in/paulosilvano



Referências




[i] Claude-Henri de Rouvroy, Conde de Saint-Simon, nascido na França em 1760.
[ii] Os socialismos utópicos – Petitifils, Jean-christian. Pag.58
[iii] Luiz Felipe Pondé – Filosofo, ensaísta e escritor – cronista da folha São Paulo.

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