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O QUE É A VERDADE | EPISTEMOLOGIA SOCIAL
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QUEM DECIDE O QUE É A VERDADE? A EPISTEMOLOGIA SOCIAL E OS DESAFIOS DE CONHECER EM TEMPOS INCERTOS
Vivemos tempos em que tudo parece instável: crises econômicas, mudanças climáticas, conflitos geopolíticos, avanços tecnológicos acelerados. Em meio a tanta incerteza, uma pergunta essencial volta à tona com força: como sabemos o que é verdade? E mais importante: em quem podemos confiar para nos informar?
É aí que entra um campo recente e muito necessário: a Epistemologia Social.
O que é Epistemologia Social?
Epistemologia, em termos simples, é o estudo do conhecimento — de onde ele vem, como o adquirimos e como sabemos que é confiável.
A Epistemologia Social amplia essa discussão, analisando como o conhecimento circula em grupos e sociedades, e como fatores sociais — como instituições, mídia, cultura, poder e autoridade — moldam o que é aceito como verdadeiro.
Ela se desenvolve com força a partir dos anos 1990, com pensadores como Alvin Goldman, que defendeu uma "epistemologia confiabilista", e Miranda Fricker, que introduziu o conceito de injustiça epistêmica — uma forma de injustiça em que alguém é desacreditado por razões sociais, como gênero, raça ou classe.
O peso do testemunho e da autoridade
Imagine que você ouve no rádio que vai chover. Você não viu o céu, não olhou o radar meteorológico, mas confia porque foi dito por um meteorologista. Esse é um exemplo simples de testemunho — uma forma fundamental de adquirir conhecimento sem experienciar diretamente os fatos.
Como lembra o filósofo Thomas Reid, um dos primeiros a tratar do tema no século XVIII, o testemunho é uma forma natural e necessária de conhecer o mundo. Mas quem tem o poder de falar — e de ser acreditado — ainda hoje é um debate social e político.
créditos de imagem: https://pixabay.com/pt/illustrations/mente-c%C3%A9rebro-mentalidade-percep%C3%A7%C3%A3o-544404/
O papel das instituições sociais
Outro ponto importante é o papel das instituições: universidades, governos, igrejas, empresas de tecnologia, veículos de imprensa. Elas são os “filtros” pelos quais grande parte do conhecimento passa.
Como mostra o sociólogo da ciência Bruno Latour, o conhecimento científico não nasce “puro” em laboratórios: ele é produzido em redes sociais complexas, onde interagem cientistas, instrumentos, financiamentos, políticas e disputas de prestígio.
Em tempos de polarização e desconfiança, essas instituições enfrentam uma crise de credibilidade. E com isso, abre-se espaço para que epistemologias paralelas — crenças alternativas, teorias da conspiração, pseudociências — ganhem terreno.
Conhecimento em tempos incertos
A pandemia de COVID-19 foi um teste vivo para a Epistemologia Social. Informações mudavam rapidamente, autoridades se contradiziam, e o cidadão comum precisava decidir em quem confiar. Máscara protege ou não? Vacina funciona ou é perigosa?
Essas questões mostram que o conhecimento não circula num vácuo técnico, mas em um ambiente carregado de emoções, interesses e disputas de poder. Como diria Michel Foucault, o saber está intimamente ligado ao poder — e controlar o discurso é também uma forma de exercer domínio sobre os outros.
Por que isso importa para todos nós?
Porque em tempos de incerteza, saber quem detém o conhecimento, por que confiamos nele e como ele se espalha pode ser a diferença entre cair em desinformação ou tomar decisões conscientes.
A Epistemologia Social nos ajuda a refletir criticamente sobre as fontes que seguimos, as verdades que aceitamos e os caminhos pelos quais as ideias se tornam "consenso".
Como cultivar um conhecimento mais confiável?
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Questione a fonte – Quem está dizendo isso? Essa pessoa ou grupo tem histórico confiável?
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Busque múltiplos pontos de vista – Especialmente se a informação mexe com suas emoções.
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Reforce a escuta ativa e o diálogo – O conhecimento é, acima de tudo, coletivo.
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Valorize instituições sérias – Apesar de imperfeitas, são essenciais para um debate público saudável.
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Aceite a incerteza – Em vez de exigir respostas imediatas, abrace o processo de investigação.
Conclusão
Em um mundo imprevisível, não basta termos acesso à informação. Precisamos desenvolver consciência crítica sobre como o conhecimento é formado, compartilhado e manipulado.
A Epistemologia Social, ao nos fazer pensar sobre isso, não é apenas uma teoria acadêmica — é uma ferramenta prática para viver com mais lucidez no caos da modernidade.
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By: Zadock Zenas (kernel text)
📚 Referências Bibliográficas
FRICKER, Miranda. Epistemic Injustice: Power and the Ethics of Knowing. Oxford University Press, 2007.
Obra fundamental para compreender como injustiças sociais podem afetar a credibilidade de quem fala e transmite conhecimento.
GOLDMAN, Alvin I. Knowledge in a Social World. Oxford University Press, 1999.
Livro que introduz a epistemologia social como campo autônomo, focando na confiabilidade e nas estruturas sociais de disseminação do saber.
REID, Thomas. Essays on the Intellectual Powers of Man. 1785.
Uma das primeiras abordagens filosóficas sobre o testemunho como fonte legítima de conhecimento.
LATOUR, Bruno. Jamais Fomos Modernos: Ensaio de Antropologia Simétrica. Editora 34, 1994.
Questiona a ideia de ciência como conhecimento puro, mostrando sua construção social.
FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. Edições Loyola, 1996.
Aborda como o saber está intimamente ligado às estruturas de poder que controlam quem pode falar e o que pode ser dito.
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