SOBRE A VIOLÊNCIA E MODERNIDADE
Em uma leitura aos recentes
artigos escritos por reconhecidos articulistas em vários periódicos sobre a
violência, gostaria de acrescentar algumas informações que considero ser
importante no sentido de entender a violência como um fenômeno emergente na era
moderna.
Nas sociedades ocidentais, a
democracia nos dias de hoje está enfrentando dificuldades para superar
problemas que eram subjacentes ao homem comum, em que a única tarefa e anseio
era trabalhar, produzir riqueza, criar e proteger a família, todas outras vontades
e pretensões giravam em torno destes eixos, como conjuntos de acessórios.
Vivendo em um mundo de extrema competição
para adquirir coisas e valores, a maioria dos indivíduos acabam ficando para
trás, enquanto outros ainda prosseguem em busca do objetivo, existem também aqueles
que já alcançaram e estão desfrutando dos bens adquiridos. Este é o mundo do
utilitarismo de “Benjamin Bentham”. A maximização racional das satisfações e
desejos.
No entanto, seria pura ingenuidade
pensar que essa massa de pessoas descontentes e não incluídas, que não conseguem
e não podem desfrutar dos prazeres da riqueza e alcançar o sonho prometido
pelas classes dominantes, estariam acomodadas e aguardando sua vez de ser os
próximos vencedores de uma maneira estoica, de modo nenhum.
Os tempos mudam rapidamente e com
o advento tecnológico das redes sociais e aplicativos, é fácil mobilizar as
pessoas a nível mundial, incutir ideias e congrega-las em uma forma de espectro
que atua sobre as emoções subjacentes gerando uma sucessão de eventos, como uma
onda.
A esses eventos, nos chamam a
atenção para o livro de George Sorel:
Réflexions sur la violence [Refleções sobre a violência] em um de seus trechos
sobre a violência ea turbulência disse:
"A greve geral do sindicalista, a
revolução catastrófica do marxista, a igreja militante do cristão, as lendas da
Revolução Francesa, E a lembrança dos Dias de Junho são todos mitos que movem
os homens, independentemente da sua realidade histórica. Como um dos discípulos
de Sorel (Benito Mussolini) disse, os homens não movem montanhas, só é
necessário Criar a ilusão de que as montanhas se movem. Os mitos sociais, diz
Sorel, não são descrições de coisas, mas "expressões de uma determinação
para agir".
De fato, a violência na sociedade
moderna está intimamente associada a desigualdades sociais: frustração,
desapontamento político que se fundiram com desemprego, guerras, imigrações,
perseguições políticas e religiosas, desprezo aos apelos de minorias étnicas, etc.
Estes grupos acabam por se tornar incapazes de adotar as regras padrões de
comportamento ditado pela sociedade.
Este pote de abominações, quando
cheio, inevitavelmente acaba derramando sobre as pessoas, criando um
catalisador para o surto de violência. O objetivo principal de tal
comportamento perturbador é mudar o status quo, criando a oportunidade para
serem ouvidos, mesmo que seja necessário estabelecer o caos para compensar as
dificuldades. Embora, seja esta, uma lógica incorreta.
Sorel, via a violência como algo
épico, a única coisa capaz de mudar o estereótipo enraizado nas elites em que o
convencional era a perpetuação do poder. Tal violência, também pode ser
descrita como, Areté, uma palavra grega que significa uma qualidade de virtude
que só os nobres e príncipes detinham como dádiva, concedida por deuses.
Platão e Aristóteles concebiam a
ideia que o ser humano deve estar em busca desta virtude e, uma vez alcançada,
deve ser aplicado em benefício total da "POLIS". Na medida em que,
uma vez alcançada, a geração de cidadãos virtuosos seria capaz de desempenhar com
ética, qualquer tarefa em benefício da sociedade.
Por outro lado, a barbárie e violência
praticada, por determinados grupos, é tida como uma vingança, uma apropriação
dessa virtude (areté) para ser usada contra a “Polis”, a violência praticada
contra cidadãos, sociedades, governo, mídia, meio ambiente, etc, engendrada por
movimentos difusos.
Esta diversidade de classes
reivindicando seus direitos, resulta na criação de um mito, algo que as impelem
a seguir em frente, independentemente de ser verdadeiro ou falso, certo ou
errado, o mais importante é exercer o domínio das massas, movendo-as e
exortando sempre à ação. Assim, surge o pano de fundo para criação de tumulto e
violência.
Em resumo, as democracias são a espinha dorsal de todo os
governos nos países ocidentais. Embora não seja completamente perfeita, ela é
ainda, o mais adequado regime para a humanidade, no entanto, precisa ser
aprimorado, no sentido de propiciar melhor acesso à justiça e propugnar pela redução
das desigualdades entre os povos.
Esta tarefa não é fácil, no evangelho de João, Jesus Cristo já
havia notado essas falhas sociais, como podemos ver em João 12: 8
João
12: 8 " Porque os pobres
sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes."
Fonte:
https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/12
Este não é um julgamento, mas uma assertiva, um conselho para
a humanidade, porque Ele sabia de antemão que os projetos do homem para
construção de uma sociedade justa e igualitária são imperfeitos e certamente se
desgastariam ao longo dos anos.
Sobre o autor:
Paulo
S.Silvano Oliveira
lawyer - Consultant
Extension in maritime law (shipping, oil & gas,
loss and averages, etc.)
"Expertise" in ports - having worked for 10
years in VALE ports.
Maritime repairs and Agency.
email: paulosilvano.juridico@gmail.com
Linkedin: BR.linkedin.com/in/paulosilvano
http://paulosilvano.blogspot.com.br
Notas: fontes,
5) http://www.iep.utm.edu/bentham/