Em
meio as manifestações sociais acontecidas nos meses de março e abril deste ano,
a conceituada revista Britânica ” the Economist” noticiava que os Brasileiros
saiam às ruas para protestar contra o governo e manifestar indignação pelo
atual estagio de corrupção no país, comendo pipocas, tomando cerveja e com
crianças vestindo trajes de super-heróis. Para eles, uma espécie de
manifestação surreal no hemisfério sul.
A
Europa, velho continente, tem larga experiência em evolução de sociedades. Estas
transformações se deram de forma bastante gravosa, passando por guerras,
revoluções, pestes, perseguição, tortura, extremismos religiosos, diversas
formas de violência até chegar a um pacto social ou contrato social, como
propugnava Rousseau.
Os
países, ou sociedades europeias, sabem que a evolução ou mutação de classes,
geralmente ocorrem de forma disruptiva, precedendo sempre a violência de grupos
radicais prontos a acederem o estopim do caos para engendrar uma mudança. Percebe-se
hoje, os esforços de governos europeus, principalmente na zona do euro, em
manter as conquistas ou acordos firmados, de forma a consolidar uma União
Europeia forte, livres de qualquer convulsão social que lembre o passado; no
que estão certos.
Mas..voltemos
a nossa sociedade e suas diferentes características na construção de um novo mundo. Vejam que a atenção da revista
não se voltou aos cartazes e as reivindicações das mais diversas, tais como:
volta do governo militar, impeachment, fora políticos, etc. O que chamou a
atenção da revista foi a forma como estas reivindicações estão sendo
externadas, dentro de uma visão empiricista da realidade social europeia.
Todavia,
isto não é absoluto, Uma breve retrospectiva ao século XVIII, podemos constatar
algumas peculiaridades na construção de uma sociedade idealizada por
Saint-Simon[i]
Para este filosofo Frances, “a modificação das relações sociais e
as estruturas políticas da França, de um sistema arcaico feudal para uma
sociedade industrial, se dariam de forma pacífica, apesar da existência de um risco
de explosão violenta por parte da aristocracia que possuía o poder de mando.
Este, poderia seria mitigado pela
natureza da ação industrial que é diferente da ação guerreira da
aristocracia.[ii]
Àquela
época, de forte presença do estado e crescente expansão colonialista, era
costume dos filósofos e pensadores
construir um ideal hipotético de sociedade perfeita, uma alternativa ao
modelo estabelecido, sopesando o sofrimento de um povo em busca de liberdade e
justiça social.
Imaginava-se
uma sociedade em que a propriedade privada não fosse o eixo de vontade do ser
humano. A diminuição da jornada de trabalho e a criação de centros culturais,
esportes e lazer para a comunidade na busca de um equilíbrio natural.
Mais tarde, rompe-se este pensamento, pela
filosofia positivista de Comte( Auguste Comte – filosofo Frances, discípulo de
Sain-Simon) Segundo a qual a observação subordina a imaginação, e os fenômenos
sociais devem ser observados e estudados para busca de respostas.
Hoje,
o mundo globalizado, as redes sociais e a comunicação virtual, trouxe uma nova
realidade à nossa sociedade contemporânea, aprimorando suas demandas. Em
resumo, as principais queixas desta sociedade, gira em torno do excessivo poder
do estado, um leviatã (monstro), sempre ávido para gastar, mas, demasiadamente
lento a retribuir, uma classe política totalmente desvinculada dos ideais
sociais, além da corrupção.
Estes,
os políticos sim, constroem sociedades idílicas para seus pares e compatriotas
navegando sempre no mar dos povos, segundo eles, enfrentando monstros vorazes,
tal qual a lenda de beowulf(herói mitológico escandinavo). Por sua vez, a
sociedade, embora elegendo esta classe política, não se sente representada por
ela e nem acreditam em seus discursos. Eis ai criado um hiato de poder.
Não
há dúvida que avançamos na redução da desigualdade social. Contudo, este avanço
se deu de forma desordenada. Cerca de 30 milhões de pessoas foram alçadas a
condição social mais benéfica, passando a somar com a classe média em sentido
consumeirista. Entretanto, resultou numa compressão social, pois não houve
melhora da classe B (média), gerando uma mistura de demandas difusas que até
hoje os partidos e o governo não conseguem entender.
Se
não entendem a mensagem, há um ruído, se este ruído não é percebido ou
decifrado, não há resposta satisfatória ou condizente aos anseios populares.
Desta forma, estamos em um deserto girando ao redor de um monte, sem
perspectiva de saída.
Concebeu-se
uma ideia, a de reduzir as desigualdades sociais, mas não desenvolveram um
projeto de longo prazo, sustentável, que pudesse conduzir esta massa de pessoas,
chamadas cidadãos e não simplesmente consumidores, a construir uma sociedade
avançada, com plenos conhecimentos tecnológicos, culturais, ambientais, etc,
fomentando novos valores.
Em
momentos de crise é preciso convergir em um ideal que nos une, na concepção de pensamentos
novos e instituições em sintonia com a demanda social. Como diz o filosofo e escritor
Pondé[iii]
, está faltando
debates acadêmicos nas universidades, escolas, associações de classe e
formadores de opiniões em conjunto com a sociedade para propor soluções. Sonhar
é preciso, projetar o futuro na busca de novas concepções e fatos novos. (grifo meu).
Dados sobre o autor:
Paulo S.Silvano Oliveira
Advogado
Extensão em Direito marítimo (transporte marítimo, oil & gás,
avarias, etc)
“Expertise” em portos – tendo atuado por 10 anos em portos da VALE.
Shipowner, shiprepairs and logistical companies.
Linkedin: BR.linkedin.com/in/paulosilvano
Referências
[i] Claude-Henri
de Rouvroy, Conde de Saint-Simon, nascido na França em 1760.
[ii]
Os socialismos utópicos – Petitifils, Jean-christian. Pag.58
[iii]
Luiz Felipe Pondé – Filosofo, ensaísta e escritor – cronista da folha São
Paulo.